sábado, 30 de julho de 2011

Freio Dianteiro

A Prima 150 vem equipada com freio dianteiro à disco flutuante "pinça" de cilindro único (floating brake calliper). Além da carenagem, este é um dos poucos componentes da Prima que difere bastante da Piaggio Fly 150 e da Vespa LX 150.


Ocorre que o meu freio dianteiro começou a apresentar muitos barulhos logo após os 1000km rodados. Não era o barulho de pastilha que normalmente ocorre com freios à disco, mas um barulho como se as pastilhas estivessem soltas e batendo contra o disco. Também ocorria de o freio não soltar totalmente a roda após o acionamento e liberação do manete, o que era percebido como um "tec tec tec" nos primeiros giros da roda após a frenagem. Uma causa provável para o problema é sujeira "dura" acumulada no cilindro.

Tendo ido à revenda/concessionária, citado o sintoma e ouvido do mecânico um solene "não é nada", após muita pesquisa para entender o funcionamento deste tipo de freio à disco, resolví fazer a verificação e limpeza eu mesmo. Então, à partir deste ponto, é importante frisar:

NÃO RECOMENDO À NINGUÉM QUE EXECUTE ESTES PROCEDIMENTOS, ELES ESTÃO AQUI APENAS PARA MEU PRÓPRIO REGISTRO E REFERÊNCIA.

O freio dianteiro é o sistema de segurança mais importante de uma moto. Ele é responsável por nada menos do que 70% da tarefa de parar o veículo, logo, seu correto funcionamento é de extrema importância.

O vídeo abaixo mostra basicamente como funciona o freio à disco "pinça":


O freio à disco é um sistema hidráulico que o usa um líquido especial, o "fluído de freio". Deve-se ter muita atenção ao manipulá-lo, pois é bastante tóxico e danifica a pintura e partes de plástico - então não deixe que ele escorra pelas partes da moto. Quando for necessário tirá-lo do sistema, deve-se armazená-lo e descartá-lo num local adequado, nunca no esgoto ou lixo comum.

Inspeção do Freio Dianteiro




Na foto abaixo dá pra ver nitidamente como o cilindro está bastante sujo:


Manutenção do Freio Dianteiro

Ou seja, foi preciso desmontar o freio e limpar o cilindro. Tudo deve ser feito com a moto apoiada sobre o cavalete central.

A primeira coisa a fazer é retirar as pastilhas de freio para permitir que o cilindro atinja um ponto de maior "ejeção".

Os 2 parafusos da foto abaixo fixam as pastilhas, sendo que há um lacre de segurança feito de uma chapinha metálica, q deve ter as abas "desentortadas" para permitir a remoção dos parafusos:



Observe essa chapinha no fundo, cuja função é pressionar as pastilhas:

As pastilhas de freio, após aprox 2000 km rodados, em bom estado:


Pastilhas retiradas, aciona-se umas 10 vezes o manete do freio, e o cilindro vai ser "ejetado" até uma posição bem mais alta do que originalmente, permitindo uma limpeza mais eficaz.

Em tese, seria possível limpar o cilindro sem ter que retirar o freio do sistema, o que tornaria o trabalho muito mais fácil, pois não seria necessário esvaziar o fluído de freio. Porém, no meu caso, não foi possível voltar o cilindro à posição inicial, mais retraído, de modo à permitir remontar as pastilhas e encaixar o freio de volta no disco e no garfo.

Por este motivo, o próximo passo é drenar o fluído de freio do sistema, para depois remover o "conector hidráulico" (indicado na 1a foto no início do artigo).

Para drenar o fluído de freio, abra a tampa do reservatório do fluído de freio, acessível conforme as fotos abaixo:



Depois remova os 2 parafusos que prendem o freio ao garfo; com ele solto vire-o, de modo que o respiro para sangramento torne-se o ponto mais baixo, e libere o parafuso do respiro para que o fluído caia dentro de um recipiente; deixe escorrer completamente. Agora é só retirar o parafuso do conector hidráulico para desconectar completamente o freio (dica: é mais fácil soltar esse parafuso se vc prender o freio no garfo ;-)

Agora que o freio foi completamente removido, pode ser lavado com uma escova de dentes, água e sabonete líquido (NUNCA UTILIZE ABRASIVOS NEM PASTA DE DENTE!!!)


O objetivo é limpar o cilindro, então procure evitar lavar próximo à pinça (onde estão as sanfonas de borracha). Tenha também cuidado para que a água não entre nos orifícios do conector hidráulico nem do respiro (é bom lavar com os parafusos nestes lugares).

Depois de lavado, seque a peça com um pano, coloque-a com o cilindro virado para cima e borrife WD-40 no cilindro e na pinça. Isto ajudará na lubrificação e secagem da peça. Não use "genéricos", use apenas WD-40, pois eles podem danificar as partes de borracha - inclusive o anel de vedação que fica dentro da peça. Deixe a peça descançar por pelo menos 15 minutos, para permitir que o WD-40 penetre bem entre o cilindro e o corpo da peça. Outro comentário importante é: nunca use WD-40 no freio depois que as pastilhas estiverem montadas, pois vc não gostaria de ter óleo atrapalhando a frenagem.

Remontagem do Freio

Essa é a parte mais trabalhosa e que exige maior atenção.

Primeiro, é preciso fazer com que o cilindro volte à posição original (retraído). No meu caso, foi preciso martelar com cuidado uma barra de ferro de 10cm de comprimento encaixada dentro do cilindro, com um pano enrolado na ponta, para não danificá-lo. Honestamente, quando encarei o desafio, se soubesse que isso seria necessário, provavelmente teria desistido... mas era tarde demais, já tinha começado e teria que terminar o serviço.

Isto feito o próximo passo é montar o conjunto, primeiro colocando a chapinha que pressiona as pastilhas, depois as pastilhas, o lacre dos parafusos, e finalmente os parafusos de fixação das pastilhas. Faça com que as pastilhas estejam paralelas e entre elas haja espaço para encaixar o disco de freio. Depois é montar o freio novamente no garfo, e fixar o conector hidráulico.

Muito bem, está tudo no lugar - mas o sistema é hidráulico e falta o fluído de freio. Há muitos tutoriais na internet sobre como trocar o fluído de freio, mas a maioria deles fala de como substituir um sistema que já tenha fluído, não um sistema vazio, como era o meu caso. Ao ser preenchido, um sistema vazio tem muito mais chances de ter bolhas de ar em seu interior, o que torna o processo de "sangria" muito mais longo e demorado; paciência aqui é fundamental para ter um freio eficiente.

a mangueira deve ter 1/4 polegada para encaixar no respiro para sangramento

O que eu fiz basicamente foi ir adicionando o fluido novo (Varga DOT-4) ao reservatório, com o respiro aberto, acionando o manete do freio várias vezes, até que fluído aparecesse na mangueira ligada ao respiro. Quando isso ocorreu, ainda foi necessário soltar os parafusos que prendem o freio ao garfo, e inclinar/mudar a posição do freio para fazer com que as bolhas presas lá dentro saísem pela mangueira. Mesmo assim, a moto permanecia completamente sem freio, indicando que ainda havia ar no sistema. Foi necessário soltar a abraçadeira de fixação do manete de freio (e também o painel de instrumentos) e deslocá-lo para cima e para o meio, para que o reservatório e a parte de cima do sistema pudessem liberar as bolhas lá represadas (sempre acionando o manete várias vezes). Muito cuidado ao fazer isso, para que o fluído não escorra e acabe danificando o painel. Conforme as bolhas de ar vão saindo, o nível do fluído vai baixando, e o freio voltando à "endurecer" como esperado. Após ter certeza de que não havia mais ar no sistema, fixei o manete na posição correta, completei o fluído até o nível e fechei o reservatório.

Remonte o painel e a frente, fixando parafusos sem exageros para não danificar a fixação. Uma chave phillips magnética é muito útil para não perder os parafusos dentro da carenagem frontal.

Os torques de fixação que eu usei foram os seguintes:

parafusos de fixação do freio no garfo: 24 Nm
parafuso do conector hidráulico no freio: 19 Nm
parafuso do respiro para sangramento: 7 Nm


Ah, já ia me esquecendo... PROBLEMA RESOLVIDO E FREIO DIANTEIRO MUITO MAIS EFICIENTE ;-)

5 comentários:

  1. Parabéns pela manutenção feita, coisa que a concessionária deveria ter feito. apesar da recomendação de que não façam isso em casa, é uma mão na roda para quem optar por não depender dos mexãnicos de plantão, pois ficou muito bem explicado.

    valeu, Marcos! boa sorte com a Prima, que pelo visto estará cada vez melhor aos seus cuidados.

    Ass: Diego Rodrigues

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  2. Opa Diego blz?! é verdade q a CC deveria ter feito isso - mas na boa acho q dá menos trabalho eu mesmo fazer a manutenção do que voltar lá 20x e não ter o problema resolvido.

    Sorte pra nós ;-)

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  3. Amigo, sem palavras para o seu blog, você está siplesmente de parabéns!!! Cara, fiz muitos cursos de mecanica, adoro mexer em moto e acredito que o Brasil precisa de motociclistas iguais você, antes de meter o pau na marca X ou Y e falar sem conhecimento de causa, devemos nos desenvolver como motociclistas pois piloto + máquina tem que ser um só. Parabéns novamente, nao me canso de ler seus tópicos do blog, pois assim posso conhecer um pouquinho dessa scooter que encanta as ruas (acho ela bonita apesar de AINDA não ter uma) Continue este trabalho que ajuda muita gente e ajuda motociclistas de verdade como vc.
    Obrigado em nome de todos internautas e daqueles que como eu dão valor a informações importantes. Obrigado

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    1. Por nada companheiro :-)

      Então, piloto + maquina = 1 só, disse tudo. E eu me sinto mais seguro conhecendo exatamente como ela funciona.

      Acho q falta pros brasileiros uma mentalidade um pouco mais "americana", no sentido de que nos EUA eles não tem o menor pudor em mexer nos carros e motos nas garagens de suas casas. Inclusive reaproveitando veículos antigos e praticamente condenados. Um vídeo q mostra bem isso tá lá nos links "Evil 200cc GY6 engine".

      Enquanto isso, por aqui, as pessoas ficam apegadas à "garantias" de 1 2 3 anos...

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  4. hj estou muito frustrado com minha prima 150cc tive muitos mas muitos problemas com ela. ja estou na justiça para rever meu dinheiro de volta.
    http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10200694127853933.1073741826.1183343190&type=3

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